Estive fazendo uma
pesquisa nos sites das principais denominações pentecostais do país e nada
encontrei sobre a Reforma. O que podemos concluir com isso? Que há um desprezo
sem igual por aquilo que nos possibilitou estarmos aqui hoje. A pergunta é: Por
que isso acontece. Tenho algumas respostas.
Não é interessante ficar
relembrando um evento que pode desenvolver nas pessoas um senso crítico que as
impeça de receber as fortalezas lançadas continuamente nesses lugares.
Qualquer cristão sincero e que estude fielmente a Bíblia e a história da
Reforma irá encontrar sérias contradições entre o que hoje é chamado de
protestantismo e aquilo que foi pejorativamente denominado protestante no
século XVI. As diferenças gritantes, ao contrário do que afirmam alguns, não
são irrelevantes, pois se tratam da essência e do âmago da Fé que protestou
contra o papado e as aberrações deste. Ora se algo perde sua essência, isto
significa que perdeu também sua identidade. Já pensou se Deus perdesse sua
essência? Simplesmente não seria mais Deus. Assim também se o protestantismo
perdeu sua essência e valores, logo deixou de ser protestantismo para ser
qualquer outro “ismo” por aí.
Mencionar a Reforma exigiria da
parte de certas lideranças o compromisso de assumir o risco de perder membresia
para o estudo e meditação de assuntos que realmente são importantes para a
Igreja. Na grande maioria das denominações pentecostais, e porque
não dizer 99,9 % delas, predomina o antropocentrismo doente, o humanismo
sofista que leva as pessoas a procurarem antes de tudo o seu próprio bem-estar.
Não vemos essas denominações pregando as doutrinas da Graça de Deus como
eleição, justificação, etc. Alguns talvez digam: Ah, isso é calvinismo! Ora
então Lutero era calvinista, pois falou reinteiradas vezes sobre esses temas.
Não amados, esses temas não são meramente calvinistas, esses eram os temas que
se pregavam nos púlpitos comprometidos unicamente com a pureza do evangelho. Os
púlpitos que priorizavam o genuíno evangelho. Um pastor que de fato é
protestante não importuna a congregação com mensagens que alisam o ego humano,
que induz o povo a uma busca por prosperidade e curas nem nada que seja
material e temporário, antes os púlpitos protestantes falam de coisas eternas,
ensinam como ajuntar tesouros nos céus e apontam aos pecadores qual é o caminho
da salvação, ensinando-lhes a baterem na porta dos Céus implorando para serem
aceitos por Deus e sua misericórdia!
Quando
se faz simpósios e congressos pentecostais quais são os temas que abordam? “Vida
Vitoriosa”, “Festival de Maravilhas”, “Fogo para o Brasil”, as palavras que
vejo saindo dos lábios de muitos pregadores são: Cresça, conquiste, prospere,
determine, profetize, grite, pule, não aceite, apareça, se engrandeça e etc. Ao
invés disso deveriam dizer: Se prostre ante a majestade e soberania do Eterno,
humilhe-se na presença de Deus para que ele a seu tempo vos exalte. A Igreja
hoje têm perdido o sentido do que vem a ser o evangelho da humilhação. As
falsas experiências sobrenaturais estão destruindo a pureza do evangelho, as
visões, profecias, línguas, curas, idas ao céu e ao inferno, combates contra
demônios e toda a sorte de mentiras usando as Escrituras têm prevalecido e
construído uma das fortalezas mais difíceis de derrubar. E tais líderes
perceberam que sem essas coisas não é possível construir grandes impérios
mercantilistas travestidos de congregações e igrejas. Precisamos continuar a
Reforma!
A Reforma traz à lume uma visão de
Deus muito desagradável. Não pensem que foram bons motivos
que levaram alguns apóstatas a abandonarem os princípios da Fé Protestante e
criarem os seus próprios. O que acontece é que o pensamento reformado
reconheceu a centralidade de Deus em todas as coisas, colocando o homem em
último plano. Isso pode ser muito desagradável para alguns. Imaginar que suas
vidas estão sendo controladas e convergindo num plano maior do qual eles não
têm como saber de que forma irá terminar ao certo, pode parecer muito
frustrante. A vontade de possuir o controle de tudo é o dínamo que move o homem
em direção a rebeldia contra a soberania de Deus. Falar em Reforma é falar em
Deus soberano. Deus soberano é o mesmo que homem incapaz e homem incapaz é o
mesmo que ferir o orgulho com qual muitos se exaltam em afirmar que podem
frustrar os planos e desígnios de Deus deixado-os a mercê de suas torpes
decisões.
Um
pentecostal jamais irá admitir plenamente a soberania de Deus, pois sua
cosmovisão distorcida da realidade o leva a questionar a justiça e benignidade
do Eterno julgando-os por seus próprios conceitos de justiça e retidão. Sendo
assim, para muitos este é um assunto que deve permanecer em secreto, e se
mencionado que se faça superficialmente para que não se desperte a curiosidade
do povo e não os faça pesquisar mais sobre o mesmo e dessa forma questionar
as coisas que tem aprendido rotineiramente nos “cultos de fogo”. Vejo todo esse
panorama com profunda semelhança à questão dos fariseus e doutores da Lei, os
quais impediam as pessoas simples de tomarem conhecimento da verdade
surrupiando-lhes a chave do conhecimento. Talvez a história hoje seja a mesma,
mudando-se apenas os protagonistas.
“Ai de vós, doutores da lei! porque
tomastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que
entravam” (Lucas 11.52).
Pr. Samuel