Série Cinco Solas - Soli Deo Gloria


O mundo de hoje ignora uma das verdades mais maravilhosas que a Bíblia nos apresenta: A existência de Deus. Com o advento da modernidade, o pensamento científico e a chegada da tecnologia, passou-se a cogitar a possibilidade de que realmente não existe um criador, não existe um Deus, a Bíblia é um livro de mitos e lendas, escrito por homens sem bom senso e fanáticos. Para aqueles que se acham nas trevas do pecado, da ignorância espiritual e alheios ao conhecimento de Deus, pode fazer sentido todas as teses formuladas quanto a origem do universo e do homem; mas para aqueles que foram alcançados pelo poder divino, que tiveram o seu coração aberto pela autoridade e soberania de Deus, e que foram iluminados pela luz do Evangelho, não existe outra possibilidade se não de que há um Deus que rege a nossa vida. Todas as coisas foram criadas e só vieram a existir para glorificá-lo!
O último elemento dos cinco solas diz que toda a glória deve ser dada a Deus. Em todas as coisas, na vida e na morte, a glória deve ser dada a Deus! Na terra e no espaço, toda a glória dever ser dada a Deus! No bom e no ruim, no bem e no mal, toda a glória deve ser dada a Deus! Aprendemos com a Reforma que Deus reina soberanamente sobre tudo e sobre todos, assim sendo, tudo e todos devem a ele glória e louvor. No passado os homens quiseram render glórias a outros deuses, a pessoas comuns e até mesmo a animais (em muitos lugares ainda é assim). Mas a Bíblia nos leva a contemplar apenas aquele cujos pensamentos são mais altos que os nossos, aquele que fez e sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder, o mesmo que nos salvou e nos redimiu no madeiro, o mesmo que desceu da sua glória e se tornou um de nós, o mesmo que existe antes de todas as coisas, aquele que não podemos sondar nem o mínimo da sua essência.
Quando dizemos “somente a Deus a glória”, estamos dizendo que somos incapazes, que somos débeis, que somos irrelevantes, que não podemos nada, que somente ele é tudo. João Batista, certa feita, disse:
É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30).
Esse espírito deve estar em nós. Nos esvaziar de si mesmos e tributar toda honra a Deus. Infelizmente muitas pessoas agem exatamente ao contrário. Muitos pastores estão pregando, investindo em evangelismo em massa, criando movimentos, não porque querem que o Nome de JESUS fique conhecido, mas porque eles é que querem deixar um legado, tornarem-se grandes, ser reconhecidos na história. JESUS seria apenas o meio pelo qual eles irão chegar ao topo. Está errado, JESUS é que tem que crescer, e nós diminuirmos. A glória tem que ser dele e não nossa. Igreja tem que ser o palco de um único artista, Deus deve ser o centro das atenções, o centro do culto, o centro das nossas vidas.
É lamentável quando vemos denominações roubando a glória de Deus e colocando nos homens. Se divinizam bispos, apóstolos, pastores, missionários, mas não se glorifica a Deus. Se prega tantas coisas nos púlpitos, porém não pregam nada que glorifique a Deus. Nesses últimos dias o homem tem sido glorificado na Igreja. Quando se ensina coisas que só atendem as necessidades do homem, quando se dá ênfase ao que aliza o ego humano, então Deus não é glorificado. Há muitos lugares onde a cura é o foco, a prosperidade é o foco, a vida sentimental é o foco, o entretenimento é o foco, e não Deus.
Se nós pudéssemos voltar a 300 anos atrás veríamos como era diferente o pensamento da Igreja. Como eram diferentes as pregações e os cultos. As pessoas iam a Igreja não por diversão, não como um encontro social, elas iam por devoção, elas iam por gratidão. As mensagens eram regadas por Doutrinas fundamentais como eleição, predestinação, a chamada eficaz, a perseverança dos santos, tudo isso era acompanhado de glorificação a Deus. Hoje, porém, o homem diz que ele é que decide seu futuro eterno, que ele tem livre arbítrio, que Deus tem que esperar a decisão dele, que Deus tem que abençoar se ele estiver sendo fiel, que Deus tem que honrar a fé, que é ele próprio, o homem, que sustenta a sua salvação até o fim, que ele é que faz e acontece. Onde Deus é glorificado nisto?
O verdadeiro culto é aquele onde o homem se esvazia é reconhece que não é digno de nada, que ele está aqui apenas para glorificar com sua vida o seu Criador. Não é tributar a outros a glória devida somente a Deus, não fomos criados por Maria, nem pelos Santos, nem por apóstolos, bispos, missionários. Fomos criador pelo Deus todo poderoso, e estamos aqui para servir inteiramente a ele.
O salmista disse:
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade.” (Salmo 115.1)
Alguns dizem que a glória pertence a Deus, mas não toda ela, porque depois usurpam para si um pouco dizendo que foram eles que escolheram a salvação, que eles é que decidiram se tornarem crentes. Outros dizem que a glória pertence a Deus, mas ao mesmo tempo estão procurando de todos os meios se engrandecer no meio da igreja, buscando cargos, posições e poder. Outros dizem que a glória pertence a Deus, mas quando sobrevém algo ruim na sua vida logo culpam o diabo, dizendo: O diabo fez isso, o diabo fez aquilo, o diabo me colocou uma doença, o diabo me fez tropeçar, o diabo está no controle. Alguns cristãos precisam se decidir se vão glorificar a Deus, ao diabo ou a si mesmos. Se você glorifica a Deus, então tudo na sua vida é para o louvor de Deus. A sua salvação é para glorificar a Deus, a sua prosperidade é para glorificar a Deus, os teus problemas visam de alguma forma glorificar a Deus. Nada é para você ou para o diabo.
Calvino dizia:
“Deus o Criador do céu e da terra governa o mundo por ele fundado. Na verdade, reiteradamente se celebra através das Escrituras não só sua paternal bondade, mas ainda a vontade inclinada à beneficência, e se oferecem nelas exemplos de sua severidade, a qual o evidenciam ser justo vingador dos feitos iníquos, especialmente onde de nada aproveita sua tolerância para com os obstinados[1]”.
Isto quer dizer que em todo o procedimento de Deus, tanto na bondade para os justos, quanto na severidade e castigo dos iníquos, Deus deve ser celebrado e glorificado. Eu não posso ver a minha vida como uma obra do acaso, eu não posso dizer que as minhas decisões e escolhas estão escrevendo meu futuro, eu tenho que reconhecer que o meu Deus escreveu algo maravilhoso para mim, e que ele guia os meus passos nesse caminho, peregrinando por entre espinhos e cravos até que eu chegue no ápice de tudo aquilo que delimitou ao meu respeito. Eu não posso creditar minhas vitórias e meus acertos a mim, eles são de Deus, também não posso render o crédito de meus erros ao diabo, eles visam de alguma forma um dia glorificar a Deus também.. Toda a nossa existência é para render glórias ao nome poderoso do nosso Deus.
“Os animais do campo me honrarão, os chacais e os avestruzes; porque porei águas no deserto, e rios no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu escolhido, esse povo que formei para mim, para que celebrar o meu louvor” (Isaías 43.20,21).

Pr. Samuel


[1] Institutas da Religião Cristã, Jean Calvino - Vol. I, Cap. X, II– Fides Reformata.