Vivemos numa época em que a mensagem do evangelho está sendo implacavelmente assaltada por dois grandes inimigos: legalismo e antinomianismo. Esses dois erros têm confundido e enganado a muitos, causando estragos espirituais tanto no catolicismo romano como no protestantismo evangélico.
O século dezesseis testemunhou um dos maiores reavivamentos na história da igreja: a Reforma. A igreja protestante nasceu de um protesto contra o legalismo impregnado do catolicismo romano. Os Reformadores pregaram corajosamente o evangelho, testemunhando a mensagem bíblica da suficiência da obra de Cristo, a graça de Deus e a autoridade plena e final da Escritura. Eles trouxeram a igreja de volta à mensagem essencial e libertadora da justificação pela fé como definida pela Palavra de Deus. Desde o século dezesseis o evangelho da Reforma tem sido o padrão de ortodoxia para os protestantes. Hoje, contudo, encontramos um novo interesse no catolicismo romano em todos os lugares do protestantismo conservador, e uma disposição acrítica de abraçar os ensinos da Igreja de Roma. Isso é devido em parte à natureza fraturada do evangelicalismo e a uma ênfase antinomiana que está se tornando mais e mais prevalecente nos círculos evangélicos. Isso tem desencadeado um debate contínuo dentro do evangelicalismo quanto à natureza da fé salvífica e o significado da salvação. Mas o interesse renovado no catolicismo romano é motivado por mais do que uma reação contra uma forma liberal e antinomista de evangelicalismo. Dado o estado da cultura de hoje há aqueles que desejam que todas as forças conservadoras dentro do cristianismo professante unam-se numa batalha comum na guerra cultural por valores morais. Unidade é o toque de clarim desse movimento, mas uma unidade conseguida à custa da verdade – em particular as grandes verdades do evangelho que foram articuladas pelos Reformadores protestantes. Aqueles evangélicos que promovem tal agenda são míopes. Eles têm esquecido que a Escritura declara que os meios ordenados por Deus para mudar uma cultura é por meio da pregação clara do evangelho de Cristo. Mas é nesse ponto que existe tanta confusão.
Há uma necessidade desesperada hoje de um esclarecimento do evangelho bíblico. Precisamos retornar a uma proclamação corajosa e inflexível da plenitude da verdade do evangelho como revelada na Escritura. Isso é o que caracterizou a pregação e o ensino dos Reformadores. A mensagem do evangelho deles estava fundamentada na autoridade suprema da Palavra de Deus e Deus abençoou os esforços deles com um derramamento do seu Espírito em grande poder e conversão. A resposta para os evangélicos que estão preocupados com a superficialidade do evangelicalismo e o estado da cultura não é a união ou a tolerância com o evangelho legalista de Roma, mas um retorno ao evangelho bíblico da Reforma. É esse evangelho que a grande parte do evangelicalismo abandonou.
Fonte: William Webster, The Gospel of the Reformation (Battle Ground, Washington: Christian Resources, 1997), págs. 12-13.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto (31 de outubro de 2010).
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