Cena do Filme Luthero |
Esta pergunta exige o máximo da
nossa atenção. Para tratar desse assunto é preciso o máximo de zelo e sinceridade.
Quando nos referimos à Reforma estamos falando do evento mais importante da
Igreja após a vinda de Cristo evidentemente. Estamos descobrindo um véu negro e
robusto que encobria a beleza e singeleza da noiva do cordeiro de Deus e a
ofuscava. Foram homens corajosos os que retiraram esse véu. Sim, foram aqueles
desprovidos de suas próprias vaidades que abandonaram o conforto do qual
poderiam ter partilhado para se entremearem por uma via tão dolorosa e incerta,
confiando apenas na provisão e na garantia de que não seriam abandonados por
aquele ao qual dedicaram suas vidas até o fim. A Reforma foi feita por homens
com estes predicados.
Quando o apóstolo Paulo escreve a Timóteo
ele diz:
“Mas o Espírito
expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando
ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de
homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada, proibindo
o casamento...” (1ª Timóteo 4.1-3a).
Esta apostasia ao qual o principal
dos pecadores se refere é precisamente o período no qual a Igreja, estando
destituída dos seus apóstolos e profetas, passou a dar ouvidos a muitos
espíritos diferentes e a receber uma mensagem totalmente contrária a que havia
recebido antes. Foram espíritos enganadores e doutrinas de demônios que
adentraram o corpo de Cristo na Terra. Perceba que a descrição feita pelo
apóstolo acerca dessa tal apostasia se encaixa perfeitamente com o sistema
Romano que corrompeu a Igreja após o ano 325 D.C. Sendo um sistema antibíblico,
mentiroso e herético o que hoje conhecemos como Catolicismo Romano, não
precisamos pensar muito para juntar as peças e comprovar que de fato o
romanismo é um emaranhado de enganação e de doutrinas demoníacas.
Jesus não veio criar um governo
político, entretanto os católicos possuem um país, o vaticano em Roma. Veneram
um homem que consideram ser o vicarius
christ (substituto de Cristo) sendo que é o Espírito Santo que veio assumir
o seu lugar como consolador. Também não veio fornecer meio de enriquecimento
aos que pregam o evangelho, porém o Vaticano está coberto de ouro e luxo, da
entrada à saída, sem contar as regalias das quais desfrutam os bispos, cardeais
e o próprio papa, os integrantes de uma escala hierárquica que não encontra
respaldo bíblico algum. Cristo também não veio conceder autoridade que vá além
a dele mesmo, como por exemplo, a de conceder o poder de intercessão a outrem,
uma vez que somente ele é o mediador e intercessor entre o homem e Deus. Cristo
não rendeu honras e glória a ninguém mais senão seu Pai (e nosso também), os
católicos, por sua vez, não só cultuam a virgem Maria como criaram todo um
panteão de pseudas divindades a quem fazem pedidos e esperam mediação. Afora
todas estas aberrações, no período medieval o poder subjulgador da “Igreja” regeu nações como mão de ferro, impondo
suas vontades e explorando os pobres e símplices, tanto na esfera física com
impostos e arrecadações, como na espiritual, tirando-lhes o direito de
conhecerem a Deus e sua Palavra, proibindo a leitura e tradução da Bíblia, impedindo
assim o seu acesso a quem desejasse conhecê-la e estudá-la.
No século XVI com o argumento de se
construir a basílica de São Pedro o papa ordena que se façam indulgências com o
fim de arrecadar o máximo possível em dinheiro. Ora, com o tanto de terras que possuía
a “Igreja” e impostos e bens, qual era a necessidade de mais dinheiro? Esse foi
o ponto no qual a Reforma explodiu. Nesse instante Deus, que há muito já vinha
brilhando sua luz na mente de homens notáveis e de coração sincero como Huss e
Wyclife, agora desperta um jovem monge agostiniano para as atrocidades que
estavam demolindo aquela que antes foi chamada de “esposa sem mancha e nem ruga”, mas que no momento se encontrava
desprovida de beleza e castidade. A “Igreja” estava violentamente prostituída
pelo pecado, pela ganância dos homens, pela sede de poder. Não se pode
conseguir tudo isso sem falsas doutrinas, sem mandamentos humanos e sem a
tradição supersticiosa que diz não ser suficiente as Escrituras e sua
autoridade. Martinho Luthero enxergou com olhos iluminados todo o desvirtuamento
daqueles que se auto-intitulavam os representantes de Cristo no mundo. E esta iluminação
não o permitiu continuar indiferente.
A Reforma, ao contrário do que
alguns dizem, não foi a construção de uma nova “igreja”. Quando fazemos uma
reforma em nossa casa podemos proceder de dois modos diferentes. 1) Restaurar
aquilo que com o passar o tempo e a exposição aos elementos da natureza
acabaram se deteriorando, por exemplo, a pintura que desbotou, as paredes que
racharam, o piso que perdeu o brilho, e etc. 2) Derrubando o que já existia e
construindo algo totalmente diferente. A Reforma que celebramos tem tudo a ver
com a primeira opção. Luthero não queria edificar uma nova “igreja” Porque ninguém pode lançar outro fundamento,
além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo (1ª Coríntios 3.11). Ele
queria que este fundamento voltasse a ser pregado como no princípio. Houve uma
restauração, isto é, lançou-se fora aquilo que era meramente humano e corrosivo
e se trouxe de volta o que é imprescindível e urgente. Não pensemos que esse
rompimento tenha sido da noite para o dia ou que tenha sido fácil. Imagine você
de uma hora para outra descobrir que tudo aquilo em que acredita não passa de
uma grande mentira. E isso ficou ainda mais notório para o pobre e devoto monge
quando de viajem à Roma. Aqueles que ele acreditava serem símbolos de pureza e
castidade tinham até mesmo prostituas especializadas
em clero ao seu dispor. Imaginar que
não poderia ver uma das “sagradas relíquias” sem antes depositar uma generosa
contribuição. O comércio de imagens que corria solto nos arredores da cidade cristã e a hipocrisia com que o
alto escalão tratava os fiéis. Creio que ele se sentiu revivendo a época em que
Jesus confrontava os fariseus. Sua alma se revoltou contra tudo isso, e agora
comemoramos 494 anos desde então.
Hoje vivemos em dias de apostasia
ainda maiores. Maiores porque não estamos falando mais da igreja romana
(apóstata por natureza) e sim daquela que no começo sustentou o estandarte da
Reforma. A única e perfeita Igreja de Cristo na terra, a qual são todos aqueles
que sustentam a fé protestante e reformada. Muitos desistiram de continuar se
reformando. Saíram dos arraiais santos e se foram criar novidades, não
satisfeitos com simplicidade e pureza devidas a Cristo. Criaram novas revelações,
escreveram novas “Bíblias”, nomearam homens como profetas e apóstolos mesmo não
tendo autoridade alguma para fazerem isso, destruíram a harmonia e a
racionalidade do culto, tornando uma verdadeira bagunça de algaravias, gritos,
pulos e catarse. Voltaram às práticas de indulgências do período medieval, só
que de maneira sofisticada, passaram a negligenciar a pregação do Evangelho
pela busca de prosperidade e ascensão pessoal. Fala-se em “VITÓRIA EM CRISTO” e
não mais na “VITÓRIA DE CRISTO”. Passou-se a exigir das pessoas contribuições
exorbitantes em troca de bênçãos e com a única finalidade de custear os gastos supérfluos
de líderes que se consideram “dignos do seu salário”. Voltou a se construir “templos
suntuosos” de causar admiração pela arquitetura e pelo luxo, nem parece que ali
se fala de um tal carpinteiro que nem tinha onde reclinar a cabeça. Precisamos
de uma Nova Reforma.
A Reforma foi o momento de Deus no
qual ele mesmo através de seu Santo Espírito guiou homens e mulheres para
atentaram as coisas que estavam escritas e para aplicá-las corretamente ao
viver humano. Isso não parou ainda. Do mesmo modo que precisamos todos os dias
nos alimentar, assim também precisamos todos os dias nos reformar. A Reforma
agora é mais um dos alimentos da Igreja. Sem Reforma, ela se desvirtua, se
desgarra do caminho, dá ouvidos aos Lobos e ladrões.
Há um pequeno rebanho incumbido de
continuar essa Reforma. Estão espalhados em vários lugares da terra. São das
mais diversas línguas, raças e condições sociais. Alguns muito cultos e
eruditos, outros simples e até analfabetos, mas todos tem algo em comum:
Acreditam numa Reforma! Acreditam que do modo que está não pode continuar. Que
a bagunça feita por certos indivíduos tem que ser arrumada, mas não sem antes
denunciar os responsáveis. Não sem antes apontar o dedo na cara dos hereges que
não cessam de perverter o caminho do Senhor e impedir que os pecadores recebam
sua Graça. Talvez alguns digam que é inútil uma Nova Reforma agora, que já está
tudo muito deteriorado, que não vai adiantar começar a “pregar certo” de agora
em diante. Errado! Devemos voltar o quanto antes para os princípios
Reformadores. Devemos abandonar o mais rápido possível as heresias destruidoras
e abraçar o evangelho. É verdade que não vamos acabar com as seitas, com os
exploradores, é importante que eles continuem para que no final recebam por
suas obras. Mas a pregação pura e sadia tem
que existir, para que possamos fazer a diferença entre o que é santo e o que é
maligno, entre os que são Igreja e entre os que são sinagoga de satanás, entre
os eleitos e os réprobos.
Graças a Deus o número de pessoas
iluminadas está crescendo. Agora mesmo enquanto escrevo esse texto há pessoas
ao redor do mundo que estão despertando do sono da ignorância e enxergando a
verdade cristalina das Escrituras. Podemos ser poucos, estamos em lugares
isolados, às vezes sem nem conhecermos uns aos outros, porém a verdade que nos
une ultrapassa todas as limitações e barreiras geográficas ou linguísticas. Um
reformado brasileiro ou um alemão ou mesmo um suíço estão ligados à mesma
mensagem protestante que ecoa pelo mundo rejeitando as mentiras do catolicismo
e os sofismas dos que estiverem em nosso meio e saíram para sua própria
perdição. Uma Igreja Reformada, e constantemente se reformando. Uma Igreja
bíblica e cristocêntrica, firmada nos valores espirituais do Cristianismo do
primeiro século e que se esvazia de si mesma para se preencher de JESUS, que
glorifica a Deus e humilha ao homem, que tem na Bíblia a sua única regra de Fé,
que se prostra diante da soberania ao invés de se auto-inflar com livre
arbítrio, que reconhece o preço que já foi pago e não fica tentando pagá-lo de
novo com esforços humanos e dinheiro, uma igreja que é de fato católica
(universal), apostólica (fundamentada no ensino dos apóstolos) e humana.
Sola
Gratia, Sola Fide, Sola Scriptura, Solu Christus, Soli Deo Gloria!
Pr. Samuel Balbino