Deus Ama o Pecador? - II




 Quando falamos no amor de Deus as pessoas têm uma concepção bastante distorcida do que vem a ser isso. Imaginam que é um amor meio bobo, submisso, passivo e dependente. Podem não classificar com esses termos que usei, mas se pedirmos para que descrevam as características do amor de Deus elas irão fornecer no mínimo adjetivos sinônimos. Isto porque a idéia que se tem de Deus é muito absurda diante da realidade que a Bíblia apresenta. Não se trata de uma sistematização teológica desenvolvida por um homem no século XVI, é mais que isso. As Escrituras são perfeitamente claras quando revelam a grandeza do Altíssimo no seu trato com as criaturas.
 
Nem tudo que comumente se diz acerca de Deus tem um respaldo firme na sua palavra. Os homens ao longo dos séculos foram tentando moldar o Senhor ao seu bel prazer, tentaram aproximar o infinito do finito. Ainda que possa parecer boa a intenção, contudo devemos discernir que não deve ser o homem quem tem de aproximar-se de Deus, e sim que o próprio Deus decida se revelar e se manifestar ao homem. É impossível para nós o colocarmos numa fôrma, adaptá-lo às nossas necessidades ou mesmo “repaginá-lo” para que se adéque aos padrões modernos. Precisamente milhares de cristãos estão fazendo isso ao redor do mundo. Eles estão de todas as formas procurando meios de deixar Deus “mais agradável” ou “mais bonzinho”.
 
Comprovadamente não é interessante um Deus que tem o total controle da existência e das vidas dos seres – Espero que tenham notado a ironia! É mais confortante ter a certeza de que em alguma instância nós possuímos o total controle, ainda que fiquemos a zombar da impotência de Deus e de sua submissão pela qual nos confere a autoridade de determinar até mesmo o nosso próprio futuro.
 
Quando adentro nesse assunto certamente no final serei taxado de extremista ou coisa do tipo. Serei extremista por não usurpar a soberania de Deus para mim, e nem mesmo poderia arcar com tal obra, pois seria como tentar esfarelar uma montanha com as próprias mãos. Vou ser bíblico e mencionar aquilo que de forma concisa está na perfeita palavra do Altíssimo, mesmo que seja difícil de ser recebido pela maioria das pessoas, cuja mente criou uma caricatura péssima do verdadeiro Deus enquadrando-o em suas próprias concepções de amor, justiça e bondade.
 
Tenho dito que Deus não ama o pecador. Isso levou à algumas perguntas que necessitam ser respondidas. Mas voltando rapidamente às origens da exposição é preciso lembrar a importância da correta compreensão da expressão “amar” e “odiar”. Amar é mais do que simplesmente gostar muito de algo ou alguém.  Em se tratando de Deus, amar quer dizer se submeter aos seus mandamentos. Amar ao próximo significa fazer-lhe o bem e negar-lhe o mal. Odiar é se opor a tudo que vai contra a santidade do Senhor. Por esta razão deve haver um ódio para com o pecado, e não somente o pecado, mas o veículo pelo qual ele se concretiza, ou seja, o homem. A santa indignação contra os pecadores é algo perfeitamente aceitável e normal, uma vez que nosso novo estado espiritual nos faz aborrecer tudo o que não possui a intenção de glorificar a Deus. Não se pode odiar a ação sem se odiar o veículo pelo qual ela se realiza. Tudo o que estiver relacionado com o pecado está terrivelmente condenado a destruição e é merecedor do desprezo e da cólera do Eterno.
 
Vejamos algumas questões mais objetivamente.
 
Deus ama o pecador?
 
Não. Deus é perfeito e é em si mesmo santo no mais profundo sentido da palavra, de modo que tudo que contraria a sua vontade é para ele uma abominação.
 
“Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal” (Salmo 5.5).
 
“O Senhor prova o justo, mas o ímpio e a quem ama a injustiça, a sua alma odeia” (Salmo 11.5).
 
“O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade” (Provérbios 12.22).
 
Deus não pode desejar menos do que a sua própria justiça, por isso o homem é incapaz de merecer o amor dele. Tudo o que o ser humano faz é corrupto e ofensivo.
 
Nós não devemos amar o pecador?

Se Deus não o ama, por que deveríamos amá-lo? Agora talvez alguns digam: Mas você também não é um pecador? Deveria se odiar também então. Na verdade esta é uma situação que não pode acontecer. Uma vez que recebi a graça de Deus e a redenção em Cristo, passei por um processo de novo nascimento, tive minha mente renovada e estou assentado nos lugares celestiais, não posso continuar sendo pecador. Por esse simples motivo jamais poderia me odiar, pois não sou odiado por Deus. Aqueles que confessaram a Jesus não são mais pecadores, os pecados deles já foram levados na Cruz, foram destruídos. Um pecador não pode se odiar por ser pecador porque sua mente está embotada pela iniqüidade, ele tem prazer no erro e não vê razão alguma para mudar. Só aqueles que foram constituídos justos é que sentem repulsa pelo seu estado anterior e glorificam a Deus por tê-los tirado dele.
 
Paulo diz:
 
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Romanos 5.19).
 
A morte de Jesus torna justo aquele que nele crê. Torna-o uma nova criação:
 
“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2ª Coríntios 5.17).
 
O que dizer sobre João 3.16?
 
Este versículo é o mais citado em todo mundo. Infelizmente o mais mal compreendido também. A maioria das pessoas imagina que Jesus está falando de um amor universal, que Deus ama toda a humanidade e deseja a salvação dela. Tudo bobagem! A verdade é que está sendo feita uma afirmação. Ele veio para que os que crêem nele não pereçam como o restante, mas tenham a vida eterna. A pergunta que precisamos fazer é: Quem são os que crêem? A resposta está um pouco mais à frente:
 
“Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas” (João 10.26). 
 
Aqueles que crêem são chamados de ovelhas. Não se tornaram ovelhas, sempre foram e por isso obedeceram a voz do Bom Pastor quando foram chamadas. É por elas que Jesus veio dar a sua vida:
 
“Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas” (João 10.11).
 
Por que então está escrito que Deus amou o mundo?
 
É necessário discernir em que sentido a palavra mundo foi usada. Se “mundo” ali significa todas as pessoas da terra teremos uma contradição, pois no capítulo 17 Jesus diz:
 
“Eu rogo por eles [os discípulos]; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (João 17.9).
 
Se Deus realmente amasse o mundo (todas as pessoas) por que então Jesus não orou por todos os seres humanos, mas exclusivamente por aqueles que recebeu do Pai? Se você ama uma pessoa, você obviamente intercede por ela diante de Deus. Tenho varias pessoas que amo e sempre oro por elas, por que Jesus faria diferente nesse momento? Um pouco depois Cristo continua:
 
“Não rogo somente por eles [os discípulos], mas também pelos que hão de crer [nós] em mim por meio da palavra deles” (João 17.20). 
 
Veja que ele teve uma oportunidade de incluir toda a humanidade, mas se limitou aos que creriam em seu nome. De fato Deus não ama a humanidade, mas somente aqueles que ele escolheu. Mas isso não responde por que lemos “Deus amou o mundo”. O que acontece é que ali Jesus está dizendo que ele não veio unicamente para o povo judeu, como eles acreditavam. Paulo diz:
 
“É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente” (Romanos 3.29).
 
Assim sendo, quando diz “Deus amou o mundo”, isto significa que a salvação não seria restrita aos judeus, mas viria sobre pessoas de todas as nações da terra. Tanto é que Revelação diz:
 
“E eles cantavam um cântico novo: Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação” (Revelação 5.9).
 
Deus salva aqueles que a quem ele elegeu, sobre eles o seu amor foi derramado ainda na eternidade.


Pr. Samuel