Série Cinco Solas - Sola Scriptura



Inicio agora uma série de postagens sobre os cinco solas da Reforma.


“Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solo Christos, Soli Deo Gloria”

É uma expressão em latim que ficou conhecida como o lema dos reformadores que reivindicavam o retorno urgente às Escrituras e a genuína pregação da palavra de Deus. No intuito de promover uma fé sadia e um cristianismo autêntico, submisso apenas a autoridade real de Cristo, eles idealizaram o que podemos chamar de máxima da reforma. São cinco elementos que deveriam caracterizam a genuína Igreja de JESUS Cristo. Então, chegou-se a seguinte conclusão: Somente a Escritura, somente a graça, somente a fé, somente Cristo, somente a Deus a glória!

Sola Scriptura – Somente a Escritura
A Igreja antes da Reforma via-se inundada por um mar de erros teológicos e morais. O estado era subjugado pelo clero de tal maneira que até comparavam os papas aos antigos imperadores romanos. O luxo do qual desfrutavam chegava a níveis absurdos. Diante desta situação Lutero se insurgiu e desafiou toda a autoridade papal e eclesiástica da época. Uma das coisas pelas quais ele lutou foi a supremacia das Escrituras. Naquele tempo a Bíblia era vedada às pessoas comuns. Apenas os sacerdotes papistas tinham acesso a estudar a palavra de Deus. Na missa a Bíblia era lida de costas para o povo, e em latim; não havia tradução na língua materna dos ouvintes. Dessa forma não havia ensino nem exortação, e as pessoas ficavam à mercê do que o pároco queria dizer e pronto; elas não tinham como saber sequer o que estava sendo lido. 

Lutero defendeu a livre interpretação das Escrituras e o livre acesso delas a todas as pessoas, mesmo as que possuíssem pouca ou nenhuma instrução. Razão pela qual traduziu as Escrituras do latim para a língua alemã, o alemão simples, falado pelas donas de casa e pelo camponês. Para ele, colocando a palavra escrita de Deus nas mãos das pessoas, agora elas poderiam examiná-las e estudá-las, conferindo se o que o sacerdote dizia no púlpito estava, de fato, crivado pelas sagradas letras.

Não bastava apenas ter livre acesso a Bíblia, ela também deveria ser reconhecida como única autoridade e regra de fé. Havia no sistema romano (e até hoje) a estúpida ideia de que a tradição e o magistério da igreja, ou seja, seus líderes, também possuem o mesmo nível de autoridade que a Escritura. As decisões tomadas pelos concílios e as interpretações feitas pelo papa deveriam ser acatadas com a mesma submissão que é devida à Bíblia. Alegavam a infalibilidade papal, ou seja, o papa não pode errar e nem induzir a igreja ao erro. A Reforma nos ensinou que somente as Escrituras encerram todo o propósito de Deus para o homem. Nelas está suficientemente relatada a vontade divina quanto à salvação dos pecadores e o modo pelo qual devemos viver para agradar a Deus. Não há necessidade de outra fonte além da Bíblia, e nenhum outro livro é tão importante quanto ela.  É bem verdade que durante o processo de Reforma foram redigidas algumas confissões de fé que são, na verdade, resumos daquilo que consideramos ser uma interpretação saudável e coerente do texto sagrado, porém isso não significa que tais confissões sejam definitivas ou inerrantes. Na Confissão de Westminster, lemos:

“Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, ... todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática... A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é apalavra de Deus... O Velho Testamento em Hebraico... e o Novo Testamento em Grego. ... sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal... O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”. (CFWM).
Veja que o texto atribui toda a autoridade à Bíblia. Ele não arroga para si o peso de escritura inspirada, como faz a tradição e os escritos papais, que cometem o absurdo de até mesmo sobrepujar o que foi dito por Cristo e registrado pelos apóstolos, pois afirmam possuir tal direito.

Quando a Bíblia é retirada de seu lugar de honra, caímos nos erros que a Sé romana impôs ao longo de séculos. As doutrinas dos homens são introduzidas dissimuladamente  para enganar os eleitos. Um exemplo prático disso é o ensino do purgatório. Não existe nada nas Escrituras sobre esse possível lugar onde as almas receberiam uma segunda chance. Mas essa falsa doutrina foi inventada para sustentar o comércio de indulgências, no qual pagava-se para obter o perdão dos pecados. O maior vendedor de indulgências, e contemporâneo de Lutero, era Juan Tetzel. Ele dizia que quando uma moeda caia em sua sacola, uma alma saia do purgatório e entrava no paraíso. Por que as pessoas sofriam isso? Primeiro, porque não podiam contestar, pois não tinham acesso a Escritura para confrontar os ensinos que recebiam; e segundo, porque todas as decisões do clero eram recebidas como infalíveis e, portanto, o mesmo que Deus falando na terra. Vemos, então, que a Reforma foi fundamental para mudar radicalmente essa mentalidade. Hoje, o que o papa diz (para nós que não nos submetemos à sua autoridade) não tem qualquer relevância.

A Bíblia, e somente ela, é infalível. As Escrituras são a nossa única regra de fé, e não a tradição engendrada por concílios e homens corruptos, sem o mínimo de reverência e temor de Deus. O Rei Davi disse em dos seus salmos:

“Também levantarei as minhas mãos para os teus mandamentos, que amo, e meditarei nos teus estatutos” (Salmo 119.48).
Ele estava se referindo às Escrituras Sagradas e não às tradições ou invencionices, maliciosamente formuladas por homens que se consideram os substitutos de Deus na terra.

Quando interpelado sobre suas posições, Lutero afirmou:



“É impossível retratação, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente; não posso confiar nas decisões dos concílios e dos Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contradito uns aos outros. Minha consciência é cativa da Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência. Assim, que Deus me ajude. Amém”.

Apesar disso, infelizmente, vemos que a Igreja está caindo novamente nos mesmos erros do passado. Agora ao invés de dar crédito à tradição, ela quer dar status a revelações, experiências pessoais e fenômenos, abandonando mais uma vez a simplicidade das Escrituras. Graças, porém, a Deus, que quando coisas assim acontecem, ele providencia um remanescente que não se dobra diante desses equívocos, assim como no tempo de Lutero. Esse remanescente é composto por todos os que abraçam a genuína pregação do Evangelho de Cristo; reconhecem a soberania de Deus e a sua inerrante Palavra como sendo a única regra de fé e conduta para o viver cristão.







Pb. Samuel