Somos todos desigrejados



Em razão da pandemia o governo federal e os governos estaduais instituíram um período de quarentena e desde então estamos em isolamento social. Comércio, escolas e igrejas precisaram fechar suas portas como medida de prevenção ao avanço do novo Corona Vírus. Quais as implicações disso para nós cristãos? O fato de não podermos nos reunir comunitariamente traz algum prejuízo à nossa fé?

Um dos inimigos atuais da Igreja, o movimento dos desigrejados, tem usado a presente situação global em que nos vemos obrigados a ficar em casa, como uma prova definitiva de que eles estão certos em repudiar todas as comunidades cristãs legalmente organizadas e estruturadas, porque na verdade todas não passam de um sistema corrupto, avarento e mercantilista. Igreja são pessoas e não denominações cujos líderes apenas enriquecem às custas de dízimos e ofertas.

Agora todos estaríamos vendo que é possível sim ser cristão ficando em casa. Não é necessário se deslocar a um local de culto nem se submeter a líderes humanos. Já li em algum lugar alguém dizer que “todos agora somos desigrejados”.

Esse movimento continua sendo uma péssima desculpa para a falta de compromisso, insubordinação, orgulho, preguiça e prepotência. Igreja é um ajuntamento de pessoas (Mt. 18.17; At 16.5 e 18.22;  Rm 16. 4; 1Co 11.16,18), uma assembleia no original grego. Ela possui governo e liderança (At 15.4 e 20.17; 1Co 5.12; 2Co 8.23 e 11.8; 1Tm 3.5), não é um aglomerado de pessoas caminhando sem rumo e sem disciplina, onde cada um diz o que quer e faz o que pensa.

A organização e estruturação das comunidades cristãs (denominações) é algo completamente natural e uma solução para a nossa realidade e o nosso contexto moderno (que não era o da igreja primitiva).

Não somos desigrejados porque estamos cultuando em casa. Os vínculos com a comunidade a qual nos unimos continuam, as responsabilidades e submissão também — Aí estão duas palavras que os adeptos desse movimento não gostam inclusive.

Tivemos que nos adaptar a essa nova condição que o mundo enfrenta, mas isso é temporário. E certamente Deus tem propósitos com todo esse reboliço que o surgimento desse vírus tem causado. Muitos passaram a valorizar mais a companhia e a proximidade, tão ameaçadas em tempos de rede social.

A liberdade de poder se reunir em comunidade para adorar nunca foi tão apreciada em países onde a Igreja não é perseguida. Ao mesmo tempo, muitos estão revelando o seu verdadeiro caráter, quando mesmo em casa, se recusam a interagir com os irmãos através dos meios disponíveis ou a realizar cultos domésticos, algo que já deveria ser rotina em todos os lares que professam fé em Jesus.

Ao contrário dos desigrejados, não somos solitários. Vivemos em comunidade. Socializamos, nos admoestamos e encorajamos mutuamente. Nos submetemos à liderança constituída por Deus enquanto ela estiver em conformidade com sua Palavra. Mesmos distantes, em razão desse protocolo de segurança, os vínculos permanecem, o amor e a comunhão permanecem. E quando tudo voltar ao normal, nos reuniremos e adoraremos comunitariamente como tem sido feito ao longo desses dois mil anos de história, se assim Deus o permitir

Presbítero Samuel