Por que Pentecostal? 3ª Parte


ACERCA DOS DONS – “A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”. (1ª Coríntios 12.1). Não parece um paradoxo o apóstolo Paulo ter escrito isso aos irmãos de Corinto e hoje, mais de dois mil anos depois, eu estar tratando ainda desse assunto? Infelizmente vamos encontrar muitos paradoxos como esse no cristianismo moderno. A teologia pentecostal (se é que podemos chamar assim) coloca muita ênfase no uso dos dons (charismata no grego, daí o nome carismático). Eu falei no post anterior sobre o batismo ou o “selo” com o Espírito Santo, e deixei bem claro que não existe ligação direta ou necessária deste com a concessão do dom de línguas. Agora quero abordar com mais detalhes a questão dos dons espirituais e o famigerado dom de línguas, ou como dizem “as línguas estranhas”!
Durante oito anos da minha vida eu vi pessoas falarem em línguas dizendo estarem sentindo a ação do Espírito de Deus. Cheguei a presenciar pessoas que ficavam como se estivesse em uma espécie de transe, pois ficavam totalmente fora de si, se tremiam, choravam, gritavam, batiam nos bancos, se tornavam quase incontroláveis. Eu via isso e achava que era normal, realmente acreditava que fosse algo de Deus, ainda que por vezes quisesse rir daquelas cenas. Hoje eu vejo que realmente tinha razão em querer rir, aquilo nada tem a ver com uma manifestação do Espírito Santo, são apenas pessoas induzidas a um estado frenético de histeria por uma sugestão bem aplicada por um pregador ou quem quer que seja.
A Bíblia fala de dons (Ef 4.7-11) e de manifestações do Espírito (1ª Co 12.7). O pentecostalismo enfatiza com grande avidez o dom de língua, de cura, de profecia e de revelação. Mas será que realmente esses dons continuam valendo para hoje? Talvez alguém diga: É claro! Eles são muitos úteis à Igreja! Não existe embasamento bíblico algum que evidencie a permanência dos dons extraordinários para os dias de hoje. O próprio Paulo nos diz que esses dons tinham um tempo limitado de atuação (1ª Coríntios 13.8). Isso quer dizer que o que temos visto hoje dentro das denominações pentecostais e carismáticas não passam de equívocos.
Sobre os dons em geral – Encontramos referências aos dons em (Romanos 12.6-8), depois (1ª Coríntios 12,13,14), finalmente em (Efésios 4.7-13). Lendo essas passagens podemos chegar às seguintes conclusões: a) Existem dons “miraculosos” ou extraordinários, e dons ordinários ou simplesmente não miraculosos. b) Os dons visam um fim proveitoso (1ªCo 12.7), o aperfeiçoamento dos santos em seu serviço, e por fim o crescimento espiritual da Igreja (Ef 4.12-15). c) Os dons miraculosos ou extraordinários tiveram uma função especial, serviram como sinais para incrédulos (1ª Co 14.22) e para credenciar aqueles que os possuía, ou seja, confirmavam a autoridade apostólica (2ª Co 12.12).
Os dons extraordinários cessaram – Os dons que os pentecostais tanto defendem não mais existem hoje, eles foram fundamentais no estabelecimento da Igreja, depois, com a sua consolidação, eles não são mais necessários.
Cura: JESUS curou muitas pessoas no seu ministério terreno, mas ele deixou bem claro qual era o propósito desses milagres, “Se, por ventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis” (João 4.48). Eles autenticavam a sua autoridade e o identificavam como o Messias prometido à Israel. Com a Igreja aconteceu o mesmo, os sinais de cura apontavam para a credibilidade do ministério apostólico, com a conclusão das Escrituras não é mais necessária uma confirmação adicional para os dias atuais. O apóstolo Paulo que curou a tantas pessoas na sua velhice sofreu de uma doença na visão (Gálatas 4.15; 6.11) e Timóteo tinha “freqüentes enfermidades” (2ª Timóteo 5.23), será que Paulo perdeu a fé para ser curado? Será que Timóteo não poderia ter “determinado” a sua cura como fazem hoje? Por que Paulo não foi lá impor as mãos sobre ele para curá-lo, ao invés disso, recomendou-lhe que bebesse vinho (que era tido como um medicamento na época)? Isso não aconteceu porque a essa altura a Igreja já estava bem estabelecida e não era mais necessária a confirmação ministerial através dos milagres.
Profecia e revelação: Aqueles que dão crédito as essas novas profecias e revelações estão dizendo que a Bíblia não é suficiente. Tudo o que precisamos saber esta lá. Por pensar o contrário, muitos estão sendo levados a ouvirem os homens e não as Escrituras. A Bíblia é a única regra de fé, o que ultrapassar isso é heresia. “O Espírito usou a revelação para estabelecer o registro objetivo da Palavra de Deus. Uma vez que este cânon da Palavra de Deus foi estabelecido, a revelação cessou. Não há mais necessidade dela hoje. Temos contido nas Escrituras, de acordo com o seu próprio testemunho (2 Timóteo 3:15-17; 2 Pedro 1:19-21), o infalível padrão de toda verdade. Temos nela tudo o que é necessário conhecer para a salvação. Não necessitamos de nenhuma revelação adicional de homens”(Rev. Wilbur Bruinsma)
Línguas: Me parece que esse é o dom mais amado pelos irmãos pentecostais. Geralmente usam o texto de Marcos 16.17 para enfatizarem, pois diz “falarão novas línguas”. Mas o mesmo versículo diz que são “sinais”, o que é ratificado por Paulo, “De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos” (1ª Coríntios 14.22). O que significa um sinal? Um sinal aponta para alguma coisa que vem adiante. Vou dar um exemplo que ouvi alguém dizer uma vez. Imagine que você vem em uma rodovia qualquer com o seu veículo. De repente você vê uma placa dizendo “restaurante 2 Km à frente”. Isso é um sinal indicando a você que existe um restaurante logo adiante. Ele foi necessário, mas depois você não precisará mais dele. Assim podemos compreender o dom de línguas. Quando Deus concedeu que os discípulos falassem em outros idiomas esse era o sinal de que o Espírito agora seria derramado “sobre toda a carne” (Joel 2.28-32). Agora a Igreja não seria limitada à somente Israel, mas de todos os povos, nações e línguas. Aqueles que viveram com JESUS nos dias de sua carne, receberam esse sinal como uma confirmação que a salvação não era somente para os judeus, mas também para os gentios. Quando e Espírito Santo desceu pela primeira vez sobre os gentios, veja qual foi a reação dos judeus: “Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, ADMIRARAM-SE, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo à Deus” (Atos 10.44,45). Era como se Deus estivesse dando um banho de água fria nos irmãos judeus que não admitiam nós gentios como parte da Igreja. O falar em outros idiomas permitiu que a mensagem chegasse a todos os povos da época. Mas como o sinal é temporário, ele não é mais necessário hoje, já temos o testemunho dos apóstolos dizendo que a salvação deve ir até os confins da terra.
Outra coisa interessante é que os irmãos pentecostais não obedecem às recomendações de Paulo quando ele exorta acerca do dom de línguas (recomendações que ele escreveu enquanto vigorava esse dom). A Igreja de Corinto estava dando muita ênfase às línguas e o apóstolo a corrigiu por isso. Na visão de Paulo as línguas só têm sentido se forem compreendidas, por isso na Igreja só deveria ser falada se houver quem interprete (1ª Coríntios 14.27,28), pois “se com a língua, não disserdes palavras compreensíveis, como se entenderá o que dizes?” (1ª Coríntios 14.9). Incrivelmente acontece o que o apóstolo deduziu, a igreja toda falando em línguas, quando entra um indouto ele pensa: Está todo mundo louco! (14.23). É o que vemos nos cultos pentecostais.
Precisamos focar a nossa atenção no que realmente interessa, a pregação do Evangelho e a nossa comunhão com Deus. Se você espera realizar isso indo em busca de sinais miraculosos hoje infelizmente estará indo por um caminho incerto e perigoso.
No próximo post falarei sobre o título “pentecostal”.

Pr. Samuel